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Bacurau é “as novas roupas do imperador”


Passado alguns meses e com eles sendo levado embora o hype finalmente peguei para assistir já bem atrasado o Bacurau. Acontece que pelo que eu sabia por cima da trama era um filme que não me interessava tanto. E não existe nada que tenha mais peso para impedir alguém de assistir um filme quando já pouco inclinado do que todos a sua volta insistindo “você precisa assistir esse filme, é muito bom”. 

Eu não sou nenhum monstro de direita nem nada do tipo. Sou de centro-esquerda, moderado, e o que eu ouvi falar por cima, e as críticas que li, me fizeram ter a impressão que a narrativa era um tanto simplista do ponto de vista político. E por isso minha inclinação inicial a não assistir. Que durou uns meses.

Recentemente vi algum comentário ou crítica na internet que me fez lembrar do filme e pensar que poderia valer a pena ver para avaliar, julgar por mim mesmo o que todos comentam.

Foi uma tarefa árdua. Consegui acesso ao filme em meu computador, com esse erro eu poderia pausar a hora que quisesse, o que me fez demorar uma semana para passar do primeiro ato. O primeiro ato do filme não é apenas ruim, ele é chato, tedioso, nada acontece. Eu fiquei pensando o que passa na cabeça de um produtor para começar um filme com um velório. Isso é quase um estereótipo de tédio. Fora isso a ambientação, apresentação dos personagens, chata, protocolar. Nada parecia mover a trama. Talvez a questão fosse tentar fazer o espectador sentir a vida pacata de uma cidade pequena.
Passada essa primeira grande barreira, consegui terminar o filme. E eu fiquei embasbacado. Estou me perguntando com sinceridade como vários amigos inteligentes, pessoas que eu respeito e confio no bom gosto, como tantas pessoas gostaram tanto e recomendam o filme. Simplesmente não faz sentido.

Não me entendam mal, eu consigo compreender a importância política de um sucesso de um filme representando os anseios da esquerda, consigo compreender a importância que as pessoas atribuem. Mas isso seria melhor direcionado em um filme melhor, um filme que mostrasse com mais qualidade uma mensagem política. Consigo compreender que para muitos esse filme foi uma catarse, foi como num dos filmes superestimados de Tarantino em que existe um prazer em ver os malvados sendo mortos. Mas será que não tínhamos mesmo nenhum outro filme para elevar a esse patamar? No ano em que uma obra de arte como Nós é lançado, por um diretor que já está se destacando por sua atenção ao problema do negro, um filme que faz uma alegoria muito forte sobre política, com uma trama boa e envolvente. Tudo bem, talvez o anseio fosse por um filme brasileiro, que mostrasse a nossa cultura nessa situação atual. Mas esse é mesmo o melhor que conseguimos?

Se fosse o filme uma obra duvidosa, divisiva, que coubesse vários níveis de simpatia e antipatia por aspectos diferentes, eu entenderia toda a aclamação e elogios que vi em pessoas de bom gosto. Porém a obra é toda fraca, toda simplista. Eu não entendo como meus amigos ao menos não mostram mais uma postura como “é, o filme tem seu valor, mas tem alguns problemas, não é tudo isso”. Mesmo essa discordância tímida não se vê em lugar algum. Parece que alguma regra moral impede as pessoas de criticar o filme. Isso por conta das afiliações políticas que foram projetadas nele e pela nossa atual polarização. Talvez o clássico “não é o momento de criticar o PT” tenha virado “não é o momento de criticar Bacurau”.

Tudo isso me leva a crer que o fenômeno de idolatria do filme, de taxar ele de obra genial, seja um grande fenômeno que se assemelha a história das “novas roupas do imperador”. O imperador comprou um suposto tecido mágico que só é visível para os que não sejam tolos ou incompetentes. Toda a corte olha o imperador e o enxerga nu, mas ninguém pode admitir aquilo, porque cada um pensa que só é invisível para si mesmo, e admitir a invisibilidade é admitir ser um tolo.  Assim a farsa se mantém longamente. No caso de Bacurau, aqueles que não enxergam a genialidade da obra, que não enxergam o melhor filme do ano, esses não seriam apenas tolos, seriam bolsonaristas, fascistas, muitos seriam os adjetivos morais que se poderia alcunhar nos que ousassem dizer o óbvio. Assim todos se forçam a apoiar essa obra que tem uma importância política clara em nossos “tempos sombrios”.

Mas porque a obra seria tão ruim? Já que estou acusando, cabe levantar alguns pontos. Já vi algumas boas críticas pela internet, algumas de pessoas contrárias ou sem ligação com a esquerda. Algumas raras de pessoas de esquerda que se permitiram apontar os pontos fracos do filme, como a de Duanne Ribeiro em que aponta as poucas possibilidades de política a partir de Bacurau. A maioria das críticas que vi não se aprofundam em alguns pontos importantes que vou tratar.

1 O filme é tedioso e expositivo

Sim, tem momentos em que a trama acelera, em que tem ação. Porém o primeiro ato mata o filme. Qualquer espectador que não se sinta ideologicamente obrigado a assistir vai parar ali mesmo. E depois ele não melhora muito. Um clima de mistério começa, cidade incomunicável, mas nada realmente que prende, ou que gere atenção para a trama. Isso porque o filme é muito expositivo. Coisas que poderiam ser deixadas mais implícitas, que poderiam ser mistérios a gerar tensão, são logo expostas. “Olha, o caminhão apareceu com tiros” ... “ah ta, o pessoal do Sudeste é vilão”; “Olha um disco voador” ... “ah tah, o cara do vilarejo mesmo já explicou que é um drone”; “olha, a cidade está sob ataque” ... “ah tah, tem esse grupo de americanos psicopatas atacando e explicando detalhadamente suas motivações”. Nada no filme é realmente mistério. Porque ele não está interessado em construir um enredo. Ele está interessado em fazer uma pregação panfletária, e para isso precisa apresentar sua exposição de forma simples e clara. Me sinto até engraçado criticando isso porque no geral eu sou a pessoa que justamente gosta mais de filmes que outros consideram expositivos, porém eu penso que isso não encaixa tão bem em um filme que poderia construir mistério, que poderia colocar os vilões como um elemento misterioso. Porém o filme faz questão de mostrar tudo o que precisamos saber desses vilões, com direito a um deles (com mais sentimentos?) confrontar o aparente líder e explicitar que ele é nazista, e depois o mesmo vilão fazer um monólogo sobre suas motivações, a necessidade de matar pra superar suas frustrações amorosas. Incapaz de entender como é a mente de um opositor, o filme constrói os seus de forma caricatural e simplista.

O filme perde a chance de construir realmente uma tensão, de mostrar a trama apenas do ponto de vista dos bacuralenses (“gente!”, lacra a criança), de mostrar uma ameaça desconhecida invadindo, tiros de um inimigo desconhecido. Mas essa versão com tensão não permitiria a exposição panfletária, então não se poderia fazer desse modo, no “nosso momento”.

2 São introduzidos elementos simbólicos e aleatórios

No começo de Bacurau, quando vc está quase dormindo no velório (o que de fato ocorreu comigo cometendo o erro de assistir ao filme à noite na primeira vez), o filme tenta ganhar sua atenção com um caixão que transborda de água aos olhos da (protagonista?) moça que voltou ao vilarejo. Qual o significado disso? Isso tem alguma importância pra trama? Vemos a jovem discutir a sua visão? Não, apenas segue a história. Depois por algum motivo os drones tem aparência de disco voador, apesar de serem identificados como obviamente drones (de curiosa tecnologia, sem necessidade de hélices externas, mas ok). Existe uma fortificação subterrânea na cidade, que Lunga aponta a localização. Talvez seja o remanescente da tal revolta retratada no museu? Não sabemos.

O filme apenas joga vários elementos aleatórios, como querendo fazer as vezes do mistério e da tensão que ele falha em produzir de forma madura. Algumas referências jogadas, homenagear Marielle, e até Mariza Letícia (que causa estranheza já que ela não foi assassinada e nem o PT é exatamente o auge da resistência de esquerda). Tenho certeza que cada um desses elementos tem uma profundidade simbólica que o diretor vai saber destrinchar longamente em entrevistas, e que os fãs mais aguçados vão apontar em críticas elogiosas que eu não vou ler. Mas são elementos perdidos que nada acrescentam a Bacurau, e que nem são relevantes para o grande público que assistiu, focado mais na referência ao nosso momento político.

Esses elementos são um erro do ponto de vista de enredo. Pois se espera de um enredo que quando ele te apresente elementos, que esses elementos voltem ou que sejam importantes para a narrativa. Quando um enredo te “promete” algo e não cumpre, ele deixa um vazio, soa como uma falta de planejamento. Um filme tem um certo limite de minutos de tela, todo espaço nele é importante, e se tempo é perdido com elementos que não contribuem com a narrativa, esse tempo é tirado de outros elementos importantes (como aprofundar mais os vilões).

3 A política da obra

Aqui talvez a parte mais polêmica, porque a mais apreciada pelos fãs. “Bacurau é um filme sobre o nosso momento” diz um fã consciente, “pois é, tempos sombrios”, responde um fã engajado.

Não, Bacurau não é sobre o nosso momento político. Isso porque Bacurau nem faz política (do modo que pretendem que ele faça). Fazer política como fazemos nas sociedades atuais é fazer a disputa de diversas forças num campo democrático, nas disputas internas de uma sociedade. O filme é centrado numa invasão estrangeira, de demoníacos americanos que querem matar gente de outra raça por diversão. Isso não é política, é no máximo guerra. Uma disputa internacional que em nada ajuda-nos a pensar a nossa situação de política nacional (e nem a internacional, que em nada se assemelha com aquilo). Dizer que Bacurau expressa nosso momento político denuncia uma narrativa fantasiosa, descolada da realidade sobre o que é nosso momento político. Sim, a extrema direita ascendeu no Brasil e no mundo, e sim, isso é muito ruim. Mas ainda vivemos em uma sociedade de democracia representativa (como era há 10 anos atrás). A direita ganhou democraticamente, por eleições. Isso torna nosso momento político já de saída um tanto diferente de uma invasão armada estrangeira. E o Estado não é apenas a presidência, que no nosso sistema político tem poderes limitados. Embora tenhamos perdido no executivo nacional as cadeiras de esquerda no congresso aumentaram nessa eleição.

Sim, existe sim em nossa realidade assassinatos, inclusive motivados por racismo (como também existiam há 10 anos atrás). Não podemos esquecer os crimes absurdos que foram o assassinato de Agatha Félix, do músico Evaldo dos Santos Rosa, e mesmo a maior ruptura democrática de nossa geração com o assassinato da vereadora Marielle. Ainda assim, ainda que um discurso sobre esses assassinatos seja de suma importância, ainda atrapalha mais que ajuda fazer sobre isso um discurso raso, simplista, que não se relaciona com nossa realidade diretamente. Tudo o que essa realidade não precisa é de simplificações fantasiosas. No nosso mundo não são estrangeiros que matam por prazer. São pessoas bem reais, brasileiros, com uma série de motivações que mascaram o racismo (como segurança, ou mesmo uma vingança de “matar bandido” – que nada tem a ver com segurança pública). Não seria a hora de fazer uma discussão séria sobre a violência, sobre a guerra as drogas, sobre as milícias, um filme sobre isso ao invés de fugir para uma fantasia sem sentido, de motivações rasas e irreais? Um filme sobre nossa realidade, pessoas com motivações dúbias, brasileiros que as vezes também são pobres e as vezes também são negros, e que mesmo assim aderem ao discurso da violência?

Que política que se pode pensar com um filme que coloca tudo em tom simplista? Uma luta infantil de bem contra mal. Os inimigos são todo mal, e os heróis todo oprimidos e rebeldes. Francamente, passa mesmo longe de ser uma representação realista de um povo brasileiro, de um povo do sertão real (volto a isso mais a baixo). A necessidade de infantilizar a política, de trazer alguém explicitamente taxado de nazista (que curiosamente se naturalizou americano, simbolizando a troca com o tempo de inimigo extremo de uma visão política simplista).

O mais triste é que o fato de tantos associarem Bacurau com nossa política mostra a visão imatura, as narrativas que tantas pessoas tem sobre nossa política. Pessoas que de fato devem acreditar que todos que discordam do PT são nazistas que matam por prazer. Queria eu que o mundo fosse tão simples, pois seria muito mais fácil combater a direita. O povo prontamente identificaria o mal e se juntaria contra ele. Mas o mundo não é tão simples.

Para não dizer que Bacurau não trata nada sobre política real, existe a figura do prefeito. O homem caricatural, corrupto, que engana o povo e o quer vender para os estrangeiros. O estereótipo completo, uma figura fácil de bater. Isso seria mais realista se houvesse alguma explicação de porquê então ele foi eleito. Todos em Bacurau o odeiam a ponto de esvaziar a cidade para sua não-recepção. Porque todos votaram nele então? Ora, mas o filme não precisa desses questionamentos maduros chatos, basta que ele seja a figura ridícula que precisa ser para a narrativa infantilizada. O filme da indícios de que Bacurau não seja um município independente e seja uma vila parte de outra cidade maior que votou nele (a cidade próxima que é citada), mas isso não é explicitado nos diálogos, e nem é apresentado para nós como uma questão política, que se houvesse poderia enriquecer muito o filme.

4 O papel das minorias

Muito do sucesso do filme esteve também associado a suposta representatividade da obra. Os fãs apontam suas virtudes nesse sentido. Eu digo que Bacurau passa longe de acertar nesse aspecto.

Temos uma suposta protagonista mulher negra. Digo suposta, porque apesar de sua centralidade nos pôsteres e divulgação do filme, de usarem seu rosto bonito, o seu papel na narrativa é nulo. Fosse o filme mais aberto para a crítica e não tivesse a limitação do “nosso momento”, eu chuto que teria toda uma comoção das militâncias feministas sobre como o suposto protagonismo é apagado, ignorado. A personagem é uma espectadora. Literalmente ela faz o papel do público, a pessoa que vem de fora, mas simpatiza com Bacurau. Em nenhum momento ela conduz a trama ou mostra qualquer agência nos conflitos. Sua grande cena é mostrar a independência feminina e convidar o colega para o sexo. Uma cena pra cumprir cartilha, para acenar para o público engajado. E depois disso nada. Não se vê ela com algum destaque no assassinato dos invasores, mas apenas se escondendo com as crianças embaixo das carteiras (crianças que francamente poderiam estar no abrigo subterrâneo), num papel de mulher frágil e protegida por heróis, como qualquer filme clássico. Em algum clássico mais machista ela talvez tivesse ainda mais papel na trama.

Outra grande aquisição apontada para a representatividade é o Lunga. O mal que vem pra bem, o homem violento que usa seus talentos para proteger a cidade. Foi apontado a boa surpresa de que justamente aquele mais poderoso, agressivo, tem traços afeminados, pinta as unhas, tem toda uma estética curiosa e diferente, alguns dizem rompendo padrões de gênero, mostrando algo como algum tipo de transexualidade ou ao menos cross-dressing. Não acho que foi isso que apareceu em tela. Lunga não rompe estereótipos, mas na verdade ele foi antes de tudo estereotipado pela própria esquerda, por ser um ator associado a papéis como transexual ou crossdresser. Mesmo que no filme poucos elementos disso fossem mostrados.

Quisesse o filme romper mesmo estereótipos ele teve muitas oportunidades para isso. Porque não colocar o homem viril, sério, que faz o papel de mocinho, porque não mostrar ele como gay ou bissexual mesmo e que isso não o faz cair em um estereótipo de perder a masculinidade? Porque não deixar o papel de combatentes e matadores que defendem a cidade dos vilões para uma das prostitutas que não tem voz nenhuma no filme? O filme se insere muito mais num modelo representativo tradicional do que as pessoas notaram.

5 Bacurau como vila modelo

Muitos aplaudem Bacurau por mostrar o que seria uma cultura brasileira, o que seria uma cultura nordestina, e como ela resistiria aos males de nosso tempo. Muitas críticas poderiam ser feitas a essa visão. Primeiro a de que a legítima defesa como última opção depois que os assassinatos já começaram não é exatamente lição de resistência política. Eles nem tem opção, é tentar sobreviver, como faria qualquer personagem em filme de terror. Mesmo para isso eles precisam mascarar sua consciência com uma droga consumida na cidade. Uma resistência política de fato seria se organizar contra o prefeito amplamente rejeitado, pressionar, derrubar ele, etc. Não esperar amistosamente que ele mande assassinos e então se defender.

Mas digamos que o filme retrate algum tipo de resistência em situação de extremos, ainda que não seja uma resistência política. No que isso representa algum tipo de povo Brasileiro? Não é como se o povo pacífico do Brasil afora, com uma cultura que costuma evitar os grandes conflitos que vemos em outros países, não é como se essa cultura tivesse a ver com a cultura de armas mostrada em Bacurau. Não que isso não tenha existido, óbvio que existiu em alguns lugares, mas não da forma como o filme retrata.

Um ponto marcante do filme é como ele tenta mostrar um nordestino idealizado. É a visão idealizada que as elites de esquerda do sudeste gostariam de ver num nordestino. De que o nordeste é a resistência da esquerda (embora, claro, Bolsonaro perdeu no nordeste e ganhou no sudeste, todas as regiões tem pessoas de esquerda e de direita, cerca de 1/3 das pessoas do sudeste votaram no Haddad, enquanto cerca de 1/3 das pessoas do nordeste votaram no Bolsonaro; 1/3 de toda a população de uma região é muita coisa, não dá pra fazer essa separação simplista como se cada região tivesse uma ideologia única). Para os que veem muita representatividade no filme, se imagina um nordeste muito representativo, em que as mulheres têm liberdade sexual, etc. Infelizmente por todo Brasil do mundo real o conservadorismo ainda é muito forte, principalmente em regiões mais pobres. As igrejas evangélicas crescem e dominam, mas antes delas era o catolicismo. Só numa versão de Brasil muito fantasiada é que se consegue achar uma vila pobre em que a religião não tem papel nenhum. Em dado momento do filme, algum dissidente reclama “eu queria reabrir a igreja”, e lhe respondem “mas ela nunca foi fechada”. É deixado no ar que o iluminado e progressista povo de Bacurau rejeita voluntariamente a religião cristã e não a frequenta mesmo com uma igreja funcional. Nada mais longe da realidade do verdadeiro brasileiro pobre. Talvez caberia aos roteiristas conhecerem mais sobre a história dos povos que realmente fizeram luta armada no Brasil e constatar: a religião cristã era uma constante (e aponto isso como alguém que não é cristão e não exatamente simpatiza com a religião, aponto como fato histórico mesmo). Em revoltas populares como Canudos, ou a Guerra do Contestado, líderes cristãos tiveram papel central dando motivação ideológica para o povo. Mas em Bacurau aparentemente não existe cristão, fora um ou outro dissidente. Porque Bacurau não é o Brasil real, é o Brasil que a elite intelectual de esquerda gostaria de ver, sem todos os inconvenientes, o conservadorismo do povo real.

O imperador está nu

Feitas as críticas, que tenho certeza que muitos podem discordar ou concordar em um ponto ou outro, resta a pergunta: porque ninguém diz que o imperador está nu? Ao menos as críticas são possíveis de serem feitas, ainda que se discorde de algumas. Porque o silêncio sepulcral sobre? Seria o mero receio de soar que se é o único tolo que não enxerga as roupas invisíveis? Seria algum combinado nacional de louvar uma obra de qualidade duvidosa, porque é o que o momento nos pede? Porque a insistência em colocar tão firmemente e sem contestação Bacurau em um patamar que ele francamente não está?

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